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Review | Um Cadáver para Sobreviver (Swiss Army Man)


Eu realmente esperava escrever um review bem formal, assim como fiz com o último de Prisoners mas, após assistir o filme que irei falar hoje, concluí que era melhor levemente dar uma descontraída, respeitando a essência do filme. Mesmo assim, recomendo que leiam tudo, do começo ao fim. Apesar da história do filme poder gerar estranheza, a obra é muito mais profunda do que parece.

Primeiro vou deixar claro, Swiss Army Man (acho que sequer saiu no Brasil pra poder ter uma adaptação de título ruim*), filme desse ano, é um trabalho independente de “baixo” orçamento, com um elenco minúsculo (incluindo figurantes, possui apenas 11 atores, segundo o IMDB), dirigido por diretores novatos no cinema. Não se trata de um filme muito comercial ou coisa do tipo, mas também tem potencial para desagradar muita gente que procura filmes diferentes.

*Pouco depois desse review o filme foi lançado pela Netflix como "Um Cadáver para Sobreviver". É, até que não ficou ruim. Também atualizado no título do review.


Os diretos são os “Daniels”, dupla formada por Daniel Kwan e Daniel Scheinert. Apesar de ser sua estreia no cinema, os dois já tiveram alguns trabalhos de curta metragem, clipes musicais (incluindo para o Foster the People) e comerciais. O maior trabalho de destaque da dupla é o clipe da música Turn Down fo What, de DJ Snake com Lil Jon, música de sucesso imenso em 2014 (tema de vários memes, por sinal). O clipe talvez não seja tão conhecido quanto a música, mas ganhou um destaque entre as premiações. É um clipe extremamente retardado, de certo mau gosto para muitos, mas que, numa visão imparcial, é possível notar que possui uma direção espetacular.

Sim, a garota é a Trenton do Mr. Robot

Swiss Army Man (que em uma tradução seria algo como “Homem Canivete Suíço”), conta a história de Hank Thompson, um náufrago em uma ilha deserta que está com uma corda no pescoço para se suicidar. Ele claramente não está seguro da atitude que irá tomar, até que simplesmente surge um corpo (Daniel Radcliffe) na praia, atraindo sua curiosidade. Ao verificar o corpo, ele tenta reanimar o homem, mas o máximo que consegue é fazer o mesmo peidar. Após uma segunda tentativa de suicídio, ele novamente fica olhando para o cadáver, esse que não para de peidar e que sai flutuando no mar. Hank, numa situação de insanidade, corre atrás do cadáver e sobe nele, usando o corpo como um barco, fazendo o mesmo peidar mais para gerar impulsão.

Os dois acabam indo parar em uma praia, finalmente chegando a um lugar habitável. Hank acaba, num modo de gratidão, levando o cadáver consigo pela floresta que encontrou. Com o passar dos dias, ele vai achando utilidades no cadáver, até o momento em que o mesmo começa a aprender a falar. Numa situação inusitada, Hank começa a utilizar Manny (nome que ele deu para o cadáver) como uma ferramenta para várias utilidades, como cortar madeira, atirar, bússola, entre outras coisas incríveis (daí o nome do filme), ao mesmo tempo que começa a criar uma amizade com o mesmo.


O filme possui um grande exagero de piadas envolvendo fracasso, sexo, masturbação, peidos, ereção, entre outros temas não muito aceitos. Apesar dessa descrição fazer parecer que o filme é um besteirol qualquer, é justamente esses elementos que tornam a mensagem do filme ainda mais forte.

A obra, através dos diálogos e das ações, de uma certa forma critica a forma como coisas naturais e comuns muitas vezes são abominadas ou as pessoas fingem que não ocorrem, a começar pelo cadáver peidando. Alguns devem saber que um cadáver tem que soltar aquilo que tá dentro dele depois de morto e, apesar de a situação de um cadáver peidando ser constrangedora, é algo real. O mesmo pode ser visto ao tratar do tema da masturbação, por exemplo, que é outra situação absolutamente normal e de conhecimento de todos, mas é sempre visto com maus olhos pela sociedade de forma hipócrita, já que boa parte pratica o ato achando que ninguém sabe disso.


Swiss Army Man também trata de problemas de relacionamento, cada vez mais típicas. Hank na floresta tenda mostrar para Manny como é uma situação de se apaixonar e coisas do tipo. Ele mostra como uma situação pode ser fácil de ser resolvida agindo, ao mesmo tempo em que fica óbvio que ele mesmo não consegue tomar essas atitudes simples. A falta de autoconfiança, acompanhada de negativismo, mantém alguém solitário preso a si mesmo não conseguindo se soltar. É uma situação infelizmente comum e é realmente complicada de se lidar.

Questões envolvendo a felicidade e o sentido da vida são sempre pontos que o filme toca. Hank se demonstra alguém com tendências suicidas, ao mesmo tempo que é uma pessoa que apenas quer ser feliz, e sabe aonde estão as coisas felizes da vida, vivendo nessa briga consigo mesmo. As vezes se toca no assunto sobre como é limitada a vida em uma sociedade, sendo privado de várias coisas por serem consideradas erradas ou estranhas.


O filme, como já disse, possui um elenco extremamente limitado. Ainda assim, dos pouquíssimos atores, apenas dois são realmente atuantes em 90% do filme, que são Paul Dano e Daniel Radcliffe. Paul Dano consegue interpretar alguém com instabilidade emocional sem aparentar afetado ou coisa do tipo, realmente fazendo crer que o personagem sofre de uma solidão. Enquanto isso, Daniel atua igualmente bem, sabendo ser extremamente engraçado usando expressões bem limitadas, interpretando alguém semi-morto, e lançando frases pesadas e impactantes com uma simplicidade fenomenal.

A trilha sonora é um caso à parte, com várias músicas feitas à capela pelos próprios atores no meio do filme, isso incluindo o tema do Jurassic Park. Também é possível notar instrumentais perfeitamente sincronizados com diálogos de uma forma incrivelmente caprichada. As canções cantaroladas pelos personagens também servem para narrar os acontecimentos durante os avanços de tempo, tudo de uma forma bem-humorada.


Swiss Army Man é um filme extremamente estranho e várias vezes sem sentido. Pode ser que haja mais mensagens no filme, já que o mesmo é muito ambíguo em alguns momentos. É um filme incrivelmente interessante e de forma surpreendente é um dos melhores que assisti esse ano. Apesar de poder não agradar muita gente, é um filme que recomendo fortemente e que merece uma chance.


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