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Review | Rogue One: Uma História Star Wars


Desde que a Disney comprou a LucasFilm em 2012 os fãs do cinema e principalmente da franquia Star Wars ficaram bem curiosos pelo que estaria por vir com essa mudança de gestão, sem interferência de George Lucas. A franquia já parecia bem fechada, com seus 6 filmes já lançados, como já era a ideia desde os anos 70, apesar de haver várias obras expandindo a série, inclusive após O Retorno de Jedi. Eis que a maior surpresa foi que a Disney simplesmente resolveu “jogar fora” mais de duas décadas de material do universo expandido da franquia, o tornando “Legends”, mantendo apenas a segunda série animada de Clone Wars ainda no cânone dos filmes (assim como quadrinhos e livros derivados).

A ideia foi justamente para esquecer principalmente de coisas pós Episódio VI, como a Trilogia Thrawn, os filhos dos protagonistas, entre outras criações, para poder pensar de novo sobre esses temas, como Kylo Ren em O Despertar da Força. Ao mesmo, um novo universo expandido foi sendo desenvolvido, com novos livros, novos personagens, novo desenho (Rebels) e, surpreendentemente, filmes, esses sem a necessidade de fazer parte da série principal episódica. Rogue One é o primeiro deles, sendo seguido pelo filme do Han Solo em 2018.



Rogue One: Uma História Star Wars, dirigido por Gareth Edwards (Monsters e Godzilla de 2014), tem como proposta contar a história do grupo rebelde que roubou os planos da Estrela da Morte. Isso até então era resumido por um parágrafo na introdução de Uma Nova Esperança, sendo até então a maior vitória da Aliança. Se passando dias antes de Luke conhecer R2-D2 e companhia, o filme tinha um potencial enorme para ser um desastre, ou ao menos bagunçar muita coisa do cânone da série, até pela proximidade da história. Surpreendentemente, o filme, diferente da trilogia prequel (que apesar de pessoalmente considerar boa, fez surgir algumas incoerências na série), não só deixa o cânone sem alterações como também explica muita coisa considerada sem sentido ou até mesmo acrescenta detalhes que agradam qualquer verdadeiro nerd.

O filme, apesar de ter como seu grande e maior foco a missão e, justamente, a Guerra nas Estrelas, é protagonizado por um grupo de seis personagens, sendo a principal Jyn Erso (Felicity Jones), filha de Galen Erso (Mads Mikkelsen), um dos principais engenheiros da Estrela da Morte. Jyn foi separada de sua família ainda criança e passou sua adolescência sendo criada por Saw Guerrera (Forest Whitaker), um líder extremista (apresentado em Clone Wars) que se opõe ao Império. Anos mais tarde, Jyn é pega pela Aliança Rebelde com o objetivo de encontrar Guerrera e seu pai, por serem peças fundamentais para os objetivos da organização.


Os outros cinco personagens são Cassian Andor (Diego Luna), um capitão da Aliança, K-2SO (Alan Tudyk), um dróide imperial reconfigurado pelos rebeldes, Bohdi Rook (Riz Ahmed), piloto que abandonou o Império, Chirrut Îmwe (Donnie Yen), um guerreiro cego que diz ser um dos Guardiões dos Whills e seu amigo Baze Malbus (Jiang Wen), um mercenário. Do lado dos vilões, temos Orson Krennic (Bem Mendelsohn), diretor imperial responsável pela Estrela da Morte, assim como seus, já conhecidos, líderes Tarkin (um Peter Cushing de CGi) e Darth Vader (ainda dublado por James Earl Jones).

O grupo principal, diferente do que poderia se esperar, é formado aos poucos, assim como os objetivos iniciais estão longe de ser o de buscar os planos da arma imperial. Apesar de se conhecerem de repente, a química entre todos é incrivelmente convincente, além de todos possuírem seu nível de carisma. As amizades de Cassian e K, assim como de Chirrut e Baze, são bem semelhantes à de Han e Chewie da trilogia clássica. Jyn, apesar de possuir um elo com o império através de seu pai, está muito longe de um Luke, Anakin ou Rey, nem mesmo de uma Padmé ou Leia. Ela é uma personagem que inicialmente pouco liga para a causa rebelde, sendo muito mais semelhante a Han Solo no Episódio IV. Todos eles possuem o nível de carisma necessário, apesar de K-2SO e Chirrut ainda roubarem um pouco mais a cena. Krennic é um bom vilão, respondendo bem ao poder que ele possui no Império. Apesar de conhecer todos agora, gera-se um carinho por boa parte deles.


O filme foi várias vezes vendido como uma obra que não necessita do conhecimento do resto da franquia. Não chega a ser uma mentira, pois a forma narrativa se difere um pouco dos demais (texto de introdução...), assim como os arcos dos personagens tem começo, meio e fim no próprio filme. Ao mesmo tempo, o que se aparenta assistindo é justamente ao contrário. Enquanto O Despertar da Força tinha um enfoque maior de apresentar a franquia para uma nova geração (requentando o primeiro filme), esse é o filme com maior material de fanservice da franquia até hoje, fazendo referência às duas trilogias e até mesmo ao Episódio VII.

Rogue One se encaixa bem como uma obra de universo expandido. Ele, apesar de possuir cameos de personagens queridos, não possui nenhum destaque a eles (com exceção de Vader), sendo muito mais focado no universo da franquia. Olhos detalhistas notam bem as referências tanto na narrativa quando nos ambientes, como “figurantes” conhecidos, jogos, naves, entre outras coisas que já estiveram no cinema e aqui fazem parte do detalhamento. Aqui pela primeira vez vemos os cristais Kyber, usados para a construção dos sabres de luz, algo bem antigo na franquia, mas nunca citado nos filmes. O planeta Jedha também é bem intrigante, pelas enormes estátuas de jedis soterradas.


Assim como o nome da arma Starkiller (primeira versão de “Skywalker” nos roteiros de Lucas) no Episódio VII, Rogue One faz referências às ideias iniciais de Star Wars, a maioria envolvendo o personagem Chirrut. No caso, a maior homenagem está na frase que o mesmo diz para as pessoas na rua: “May the Force of others be with you” (“Que a Força dos outros esteja com você”). A frase nada mais é do que a versão inicial da clássica “May the Force be with you” (“Que a Força esteja com você”) e que pode ser vista na HQ “The Star Wars” (que resume os roteiros originais da série).

A atuação de Felicity Jones é boa e convincente e, apesar de algumas falhas (algo bem comum até com bons atores como ela na franquia), ela faz bem o seu serviço, assim como sua personagem. Jyn foge muito do que foi visto com Rey em O Despertar da Força, essa que, apesar de ser uma boa personagem, muitas vezes soa como forçada, por já ser a terceira “The Chosen One” da série, sendo talvez a com mais poderes forçados até hoje. Jyn é apenas uma mulher com boas habilidades com armas e ágil, nada muito acima disso, com fraquezas claras e com um alto nível de coragem. Em um mundo tão fantástico e grandioso, uma garota simples como Enso sendo protagonista soa como um bom equilíbrio para a série que talvez já estivesse um pouco saturada ou exagerada nesse ponto.


Apesar do medo de alguns, o tom de humor é em um nível ideal. Diferente do já saturado humor imposto pela Disney nos filmes da Marvel, com momentos cada vez mais forçados, aqui é algo bem balanceado, mais leve que em O Despertar da Força. São piadas aqui e ali, envolvendo mais o K-2SO, honrando bem o humor da franquia envolvendo dróides.

Vale também destacar que o filme dá explicações e novas perspectivas para coisas que já conhecemos, como a falha na Estrela da Morte, os poderes da mesma, assim como era por dentro da Aliança Rebelde, com desavenças entre seus membros, além de um lado sujo da mesma, mostrando que na guerra não existem santos.

Pela primeira vez temos um filme de Star Wars sem o lendário John Williams na trilha sonora. No lugar dele temos Michael Giacchino, esse com grande legado na série Medal of Honor, nos primeiros Call of Duty’s, além de vários filmes da Disney e da Pixar como Up e Os Incríveis. Apesar de uma situação no mínimo complicada de honrar as sempre grandiosas OSTs da série, ele consegue fazer muito mais do que esperado. Pode ser até meio perigoso dizer isso, mas o trabalho de Giacchino parece melhor e mais criativo que o de Williams no Episódio VII. Michael utiliza várias referências das músicas clássicas, além de obviamente encaixar a marcha imperial nas cenas com Vader, mas ele consegue apresentar novas músicas de forma agradável e impactante, com destaque ao tema principal. As músicas muitas vezes parecem ser algumas das clássicas, mas de repente se apresentam algo bem diferente, sendo uma ideia bem criativa para homenagear aquilo já existente e inovar.


Aproveitando a deixa, vamos falar de Vader. Sem dar muitos spoilers sobre sua participação, ele é totalmente honrado nesse filme. Seu lore consegue ser expandido, mesmo com pouquíssimos minutos do filme o envolvendo, assim como seu poder é demonstrado como nunca antes nos filmes, de uma forma que só a tecnologia atual poderia proporcionar. Temos a melhor cena até hoje do personagem, fazendo algo impactante no meio de outras cenas grandiosas, mostrando a real força que o personagem possui não só no cinema como na cultura pop, com sua simples presença de coadjuvante sendo algo impactante.


O filme divide com A Vingança dos Sith o melhor terceiro ato de toda a série. É uma completa homenagem à vários icônicos momentos de ação da série, além de honrar o “Wars” no título da franquia. A ação do filme é incrível, com claras homenagens à filmes de guerra, principalmente os de Segunda Guerra Mundial. Ainda tratando os aspectos técnicos, temos dois personagens refeitos em computação. Enquanto o já citado Tarkin possui um CGi mais parecido com uma cena de videogame, o outro personagem, até por aparecer bem pouco, é até convincente.

Rogue One não possuía obrigação nenhuma de ser o melhor filme da franquia, e nem realmente é, mas chega perto. O filme não poderia ser considerado o melhor simplesmente por suas melhores qualidades dependerem fortemente dos outros filmes, mas ao mesmo tempo ele consegue dar um ar um tanto diferente à série, fugindo de jedis e batalhas de sabre, mas mantendo um tom divertido, com personagens carismáticos, grandes cenas de ação e uma grande jornada. Rogue One é o primeiro passo do universo expandido nos cinemas e, por incrível que pareça, parece um rumo mais interessante do que a contínua saga agora protagonizada por Rey. Que venham mais contos de Star Wars.

"I am one with the Force and the Force is with me."


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