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Review | T2 Trainspotting


Lá se vão 21 anos desde que a obra de Danny Boyle baseada no livro de Irvine Welsh deu às caras nos cinemas causando alvoroço por seu conteúdo polêmico. A vida dos amigos malucos e drogados escoceses era um cutucão forte à sociedade da época, ironizando o modo padrão de vida e ao mesmo tempo mostrando o quanto era desorientada a vida dos jovens na época. Décadas se passaram e Trainspotting ainda é um filme muito atual, o que não torna a sequência desnecessária.

O primeiro filme foi lançado em 1996. Desde então houveram várias conversas sobre uma sequência, principalmente baseada agora no livro “Pornô”, lançado em 2002. Anos se passaram e surgiram algumas desavenças entre atores e diretor, somadas às carreiras que cada um seguiu. Na época, Danny Boyle ainda era um iniciante que havia conseguido um destaque com Cova Rasa, protagonizado já por Ewan McGregor. Os outros atores também não possuíam nenhum enorme destaque, ou seja, eram iniciantes nessa carreira de cinema. Agora em 2017 a situação é outra. Jonny Lee Miller agora faz sucesso sendo Sherlock Holmes na série Elementary, assim como Robert Carlyle em Once Upon a Time. Ewen Bremner faz alguns coadjuvantes em filmes de sucesso, enquanto a garota Kelly Macdonald agora é uma mulher de sucesso em Hollywood. Ewan conseguiu seu destaque se eternizando em Star Wars como Obi-Wan, assim como conseguiu manter uma carreira em alta. Já o Oscar de Danny Boyle por “Quem quer ser um Milionário?” fala por si só. Após tantos desencontros, finalmente todos conseguiram entrar em acordo e finalmente gravar uma sequência.


Assim como na vida real, se passaram duas décadas desde que Renton traiu seus amigos e fugiu com a grana da venda dos pacotes de heroína. Eis que após algumas complicações em sua vida ele resolve finalmente botar os pés novamente na Escócia pela primeira vez desde aquilo. Em uma época toda diferente ele retorna à sua cidade de juventude e nota que apesar de tudo as coisas não mudaram tanto. Spud continua desorientado, ao mesmo tempo em que Sick Boy ainda continua com seus planos mirabolantes para conseguir dinheiro. Ao mesmo tempo Begbie vem passando um bom tempo na prisão. Obviamente ele é recebido da pior forma possível já que, assim como aquela última história ficou marcada para ele, para os outros ficou ainda mais, somado à um acumulo de rancor pela traição de um dos membros daquela irmandade. Nem mesmo Spud, que recebeu sua parte naquela situação, recebe bem o amigo, até pelo dinheiro deixado ter servido apenas para sustentar seu vício exagerado.

Apesar das intrigas iniciais, Mark vai conseguindo reatar a amizade com seus antigos parceiros. Logo vai compreendendo como foi a vida de seus amigos nesse tempo e como suas tentativas de formar família fracassaram. Ao mesmo tempo Sick Boy vem planejando um modo de passar a perna em Renton para se vingar e conseguir abrir um grande prostíbulo para chefiar ao lado de sua namorada Veronika (Anjela Nedyalkova). Para completar, Begbie conseguiu fugir da cadeia e agora tenta voltar a carreira de crimes ao mesmo tempo que tentar lidar com as diferenças com sua esposa e seu filho.


Apesar da carreira já consolidada de Boyle como diretor, aqui ele resolve dar uma arriscada e tomar um modo de dirigir mais estilizado e diferente. Talvez para manter a identidade louca do primeiro filme, ele utiliza posicionamentos de câmera normalmente em movimento, complementados por frames travados que já existiam no primeiro. Ao mesmo tempo, há um abuso de cortes bruscos de cenas, que no início soam bem incômodos mas aos poucos ocorrem com menos frequência e de forma mais compreensível. Há agora um apelo para adereços visuais, como efeitos ao estilo Snapchat nos rostos, numerações no lado de fora de prédios, conversas de celular expostas no ar, assim como outros atrativos para dar um ar mais moderno e descontraído.


A história do filme segue um modo parecido com o primeiro, sem se prender numa trama de objetivo fixo, com ela se desenvolvendo aos poucos com maior foco nas relações entre os personagens. Mesmo assim há aqueles pontos mais centrais para cada um no filme como a tentativa da criação do prostibulo de Sick Boy, a melhora sexual de Begbie e a busca por um hobbie de Spud. O filme também traz um grande foco para o passado dos personagens, indo mais longe que o filme anterior, lidando com o início deles no mundo das drogas ou até mesmo a infância deles na escola demonstrando o quão ligados todos sempre foram desde pequenos. É algo provavelmente inspirado no terceiro livro, “Skagboys”, lançado em 2012. Esse aprofundamento é totalmente positivo, aumentando de forma caprichada o lore dos personagens de forma a compreender mais os mesmos.

O filme usa e abusa do fan-service. Ao longo de todo o filme vemos fotos provavelmente tiradas em bastidores do filme antigo, assim como trechos do filme original, muitas vezes para comparar momentos parecidos. Há coisas completamente mantidas como o quarto de Renton, assim como há sempre alguma piada que só é possível de entender caso já tenha assistido o primeiro, como um vazo completamente sujo. Para alguém de primeira viagem é apenas uma cena de segundos, mas para quem já conhece o primeiro, sabe o significado e a referência daquilo. O filme também traz outros personagens do filme anterior como Diane (Kelly Macdonald), Mikey (Irvine Welsh) e Gail (Shirley Henderson), mostrando como as coisas ainda se parecem bastante mesmo depois de tanto tempo.


É interessante notar como a ideia do filme combina totalmente com os personagens. No primeiro, principalmente Renton e Sick Boy eram dois nostálgicos, essencialmente por coisas que mal viveram, como a grande fase de George Best ou o rock dos anos 70. Aqui, estão todos com seus mais de 40 anos, tendo seus motivos para serem nostálgicos, agora relembrando também aquela fase dos anos 90, a música eletrônica e o alto consumo de droga. Falando nisso, há uma preocupação menor nesse filme sobre denunciar os males das drogas, ao mesmo tempo em que o filme possui talvez uma carga dramática mais forte que o primeiro, principalmente na nova versão do monólogo "Choose Life” que, dessa vez, termina de forma bem depressiva, mostrando um lado conturbado da mente de Mark e de como ele se arrepende de decisões que tomou.

Um dos grandes atrativos do primeiro filme era a trilha sonora e aqui não poderia ser diferente. Na soundtrack temos uma boa variedade de músicas, desde as mais antigas às mais atuais. Temos “Radio Gaga” do Queen, “Relax” de Frankie Goes to Hollywood, “Dreamers” de Blondie assim como remixes de Lust for Life e Born Slippy do primeiro filme. De quebra, a música “Sink” do Wolf Alice, presente no primeiro trailer, também toca. O filme sabe usar muito bem as músicas, sendo muito comum cenas que logo trocam de uma para outra ou ficam intercalando ou rolando um breve mash-up.


T2: Trainspotting pode não ser uma obra prima igual ao original mas mesmo assim consegue honrar o primeiro filme. É um filme que respeita completamente a essência dos personagens e daquele universo, expandindo ainda mais sobre o passado do grupo de amigos e de como eles se relacionam. Mesmo com um começo cheio de cortes estranhos, o filme engrena bem ao passar do tempo, sendo extremamente divertido e mantendo aquela essência maluca, alegre e repleta de humor negro.


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