Header Ads

Review | Lion


Entre todos os 9 indicados a melhor filme para o Oscar 2017, assumo que Lion: Uma Jornada para Casa era um dos que menos me parecia interessante, além da recepção em geral dele ter sido bem abaixo dos outros concorrentes. De forma surpreendente, acabei me deparando com aquele que para mim é o melhor dos indicados ao grande prêmio da Academia.

Lion é um drama biográfico dirigido pelo iniciante Garth Denis e roteirizado por Luke Davies, baseado no livro A Long Way Home, de Saroo Brierley (nosso protagonista) e Larry Buttrose. O filme, como acabei de destacar, conta a história de Saroo, um garoto indiano que ainda muito jovem acabou se perdendo de sua família e, ao passar por enormes dificuldades, acabou sendo adotado por uma família australiana. Décadas depois, com a ajuda do Google Earth, ele iniciou uma busca por sua família de sangue, para enfim reencontrar sua mãe e irmãos.

O filme se inicia mostrando a rotina de Saroo (Sunny Pawar) e seu irmão Guddu (Abhishek Bharate), roubando pedras de carvão de um trem para poderem comprar leite para sua família, liderada apenas pela mãe, a qual trabalhava de carregar pedras. Um dia Saroo decidiu ir com seu irmão ir procurar algum trabalho em outra cidade. Ao chegar cansado na estação de trem, Saroo acabou dormindo em um banco da estação após seu irmão ter ido atrás das pessoas que estavam oferecendo serviço. Ao acordar, o garoto encontrou a estação vazia e acabou entrando em um vagão de trem para procurar seu irmão e, ao não o encontrar, acabou dormindo. Ao acordar, o trem já estava em movimento, só parando várias estações à frente de onde seu irmão estaria, chegando a uma região da Índia que não falava a mesma língua que ele, iniciando uma busca completamente difícil de voltar para casa.


Na primeira uma hora do filme é mostrada toda essa fase como criança de Saroo, mostrando todas suas dificuldades na Índia, até seus primeiros momentos como filho adotivo do casal australiano John (David Wehham) e Sue Brierley (Nicole Kidman) e adoção de seu irmão Mantosh. Ao apresentar essa estabilidade na vida do protagonista, avançamos 25 anos, para o ano de 2011, agora com um Saroo adulto (Dev Patel) totalmente familiarizado com os padrões australianos e com uma vida bem mais descomplicada que na sua infância na Índia, apesar das desavenças com seu irmão Mantosh, o qual sofre de problemas mentais.

Essa parte do filme inicialmente parece algo mais parado, tanto que o ritmo do filme fica um pouco mais leve, mostrando os relacionamentos sociais de Saroo e seu namoro com Lucy (Rooney Mara). Acontece que, após uma crise de memórias que voltaram à tona, Saroo começa a ficar perturbado e a querer respostas sobre como está sua família de sangue, sendo apresentado ao Google Earth para tentar buscar possíveis rotas que se assemelhassem às do trem em que acabou se perdendo.


O filme consegue apresentar uma história real de forma cativante e emocional. A primeira uma hora do filme, focada na fase infantil de Saroo possui uma carga de dúvidas e situações estranhas que em nenhum momento são explicadas, justamente por mostrar a perspectiva da criança naquela situação. A atuação de Sunny Pawar é uma das mais belas dos últimos anos envolvendo jovens, possuindo um enorme carisma e nos fazendo sentir dó dele em todas as situações das quais ele passa, ainda mais considerando que a vida do personagem não era fácil nem mesmo quando convivia com sua família. Creio que para o mercado americano esse início possa ter sido incomodo, já que é quase uma hora de diálogos apenas em línguas da Índia, com o inglês só sendo introduzido com a apresentação do casal Brierley. Mas bem, assim como assistimos filmes na língua deles, eles podem muito bem assistir filmes que não sejam totalmente em inglês.

Na segunda parte, apesar do início morno, o filme volta a apresentar forte carga dramática, agora nas mãos de Dev Patel que consegue representar muito bem a sensação de perturbação do personagem, que aos poucos vai quase enlouquecendo com seus pensamentos e se distanciando de todas suas pessoas queridas para conseguir manter seu foco na busca.


A direção de Garth Denis que, como eu disse, é um iniciante em longa metragens, é extremamente competente, sendo um dos nomes de maior potencial para grandes prêmios no futuro (particularmente acho que deveria ter sido indicado ao Oscar de melhor diretor no lugar de Kenneth Lonergan). Ele sabe dar um bom dinamismo à trama, não nos fazendo cansar em nenhum momento do que está acontecendo, seja na primeira fase (que se se sustenta por si só), seja na segunda (colocando mais momentos do passado, em forma de lembranças, ou então de possibilidades pensadas por Saroo). Claramente soube lidar bem com os atores, com todos possuindo atuações competentes, com claro destaque ao garoto Sunny Pawar e aos já veteranos Dev Patel e Nicole Kidman (indicados ao Oscar como coadjuvantes, sendo bem questionável no caso de Patel, por ser claramente o protagonista). Isso, combinado à excelente fotografia de Greig Fraser (Rogue One) traz uma experiência completamente satisfatória.

Outro grande destaque do filme é a trilha sonora, composta por Dustin J. O'Halloran e Volker Bertelmann, com maiores enfoques no violino e no piano, conseguindo aumentar o tom de sensibilidade das cenas, marcando bastante presença durante todo o filme. A trilha ainda possui como música tema a popular Never Give Up, da cantora Sia, que acabou não conseguindo espaço no Oscar.


Com uma narrativa dinâmica e cativante, atuações de grande nível, o grande carisma de Sunny Pawar, uma brilhante fotografia e uma enorme carga dramática presente desde o início até a emocionante cena final, Lion: Uma Jornada para Casa é uma grata surpresa entre os filmes dessa temporada, merecendo maior destaque do que vem recebendo e, quem sabe, receber o grande prêmio na noite de amanhã no Oscar. O que resta aguardar é um futuro promissor para o encantador garoto indiano e para o talentoso diretor Garth Denis.


Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.